
Nara
1967
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Tic-tac do meu coração (Walfrido Silva e Alcyr Pires Vermelho)
O tic tic tic tac do meu coração
Marca o compasso do meu grande amor
Na alegria bate muito forte
E na tristeza bate fraco por que sente dor
O tic tic tic tac do meu coração
Marca o compasso de um atroz viver
É o relógio de uma existência
Que pouco a pouco vai morrendo de tanto sofrer
Meu coração já bate diferente
Dando sinal do fim da mocidade
O seu pulsar é um soluçar constante
De quem muito amou na vida com sinceridade
Às vezes eu penso que o tic tac
É um aviso do meu coração
Que já cansado de tanto sofrer
Não quer que eu tenha nessa vida mais desilusão -
Lancha nova (João de Barro e Antônio Almeida)
Ô! Ô! Ô! Ô!
Lancha nova no cais apitou
E a danada da saudade
No meu peito já chegou
Adeus oh! Linda morena
Não chores mais por favor
Partindo eu morro de pena
Ficando eu morro de amor. -
Por exemplo: você (Suely Costa e João Medeiros Filho)
Ai se eu tivesse pela minha vida
Uma dor sofrida
Coisa tão aflita a me matar
Eu não teria
Companheiro saiba
Tanto desespero que essa dor lhe causa
E faz chorar
Porque no mundo
Só quem vive certo
É quem tem por perto
Um amor tão grande a dedicar
E não sabendo,
Tudo vai sumindo
você vai partindo
Para o nunca mais
Por exemplo,
Você não, não sabe
Que é tarde tão triste
Vivendo, morrendo
A vida não lhe faz senão desesperar
E o meu caminho é certo
Vem de peito aberto
Enfrentando tudo que chegar
Uma certeza essa eu lhe digo, você meu amigo,
Não vai mas chorar. -
Corrida de jangada (Edu Lobo e Capinan)
Meu mestre deu a partida
É hora, vamos embora
Pros rumos do litoral
Vamos embora
Na volta eu venho ligeiro
Vamos embora
Na volta eu chego primeiro pra tomar teu coração
É hora!
Ora, vamos embora
É hora, vamos embora
É hora, vamos embora
Vamos embora, ora, vamos embora!
É hora, vamos embora
É hora, vamos embora
Viração virando vai
Olha o vento, a embarcação
Minha jangada não é navio, não
Não é vapor nem avião
Mas carrega muito amor
Dentro do meu coração
Sou meu mestre, meu proeiro
Sou segundo, sou primeiro
Reta de chegar
Olha a reta de chegar
Mestre, proeiro
Segundo, primeiro
Reta de chegar
Reta de chegar
Meu barco é procissão
Minha terra é minha igreja
Minha noiva é rosário
No seu corpo vou rezar
Minha noiva é meu rosário
No seu corpo vou rezar
Ora!
Ora, vamos embora
Vamos embora
Vamos embora
Vamos embora
Vamos embora
Ora, vamos embora
Ora, vamos embora, nego -
De onde vens (Dori Caymmi e Nelson Motta)
Ah, quanta dor vejo em teus olhos
Quanto pranto em teu sorriso
Tão vazias as tuas mãos
De onde vens assim cansado
De que dor, de qual distância
De que terras, de que mar
Só quem partiu pode voltar
E eu voltei pra te contar
Dos caminhos onde andei
Fiz do riso amargo pranto
No olhar sempre teus olhos
No peito aberto uma canção
Se eu pudesse de repente
te mostrar meu coração
Saberias num momento
quanta dor há dentro dele
Dor de amor quando não passa
É porque o amor valeu
Só quem partiu pode voltar
E eu voltei pra te contar
Dos caminhos onde andei
Fiz do riso amargo pranto
No olhar sempre teus olhos
No peito aberto uma canção
Se eu pudesse de repente
te mostrar meu coração
Saberias num momento
quanta dor há dentro dele
Dor de amor quando não passa
É porque o amor valeu -
Se você quiser saber (Cristóvão de Alencar e Silvio Pinto)
Ser voce quiser saber
Eu lhe digo com prazer
Porque é que a que a Vila
é o melhor lugar desse mundo
É que as cabrochas de lá
Sabem dar valor ao amor de vagabundo
Na vila não se tem o mal costume
De se prometer amor eternamente
Porque não há inveja nem ciúme
Lá o amor é diferente.
E quando as morenas alinhadas
Passam com promessas no olhar
Estrelas lá no céu envergonhadas
Deixam até de cintilar. -
Camisa Amarela (Ary Barroso)
Gosto dele assim, passou a brincadeira, e ele é pra mim...
Encontrei o meu pedaço na avenida de camisa amarela
Cantando a Florisbela, oi, a Florisbela
Convidei-o a voltar pra casa em minha companhia
Exibiu-me um sorriso de ironia
Desapareceu no turbilhão da galeria
Não estava nada bom, o meu pedaço na verdade
Estava bem mamado, bem chumbado, atravessado
Foi por aí cambaleando se acabando num cordão
Com um reco-reco na mão
Depois o encontrei num café zurrapa do Largo da Lapa
Folião de raça bebendo o quinto gole de cachaça
Isso não é chalaça!
Voltou às sete horas da manhã mas só na quarta-feira
Cantando "A jardineira", oi, "A jardineira"
Me pediu ainda zonzo um copo dÂ’água com bicarbonato
Meu pedaço estava ruim de fato pois caiu na cama e não tirou nem o sapato
Roncou uma semana
Despertou mal-humorado
Quis brigar comigo
Que perigo, mas não ligo!
O meu pedaço me domina
Me fascina, ele é o tal
Por isso não levo mal
Pegou a camisa, a camisa amarela botou fogo nela
Gosto dele assim
Passou a brincadeira e ele é pra mim
Gosto dele assim
Passou a brincadeira e ele é pra mim -
Cabra Macho (Guto e Mariozinho Rocha)
Cabra macho tem no norte
Tem no sul, em toda parte
Tem macho que é industrial
Tem até porta-estandarte
Tem sujeito importante
Tem gente até sem nome
Achar macho hoje é fácil
O difícil é achar homem.
Tem brigão que é valente,
Tem covarde que é bondoso,
Mas na hora de ajudar,
O valente é que é o medroso
E é por isso que eu falo
E não quero citar nome
Ser macho hoje é fácil
O difícil é ser homem
Tem tanto burro mandando
Em homens de intelegência
Que as vezes fico pensando
Que a burrice é uma ciência
E quem não me aceitar
Nem por isso me consome
Porque macho tem aos montes
O dificil é achar homem.
Não sou bom e não sou mal
De jornal eu não sou crítico
E também não sou político
Sou pessoa bem normal
Não sou pobre nem sou rico
É por isso que critico
Tem gente passando fome
Mas também tem muito rico
Que não é macho e nem é homem. -
No cordão da saideira (Edu Lobo)
Chora menino
Pra comprar pitomba
Hoje não tem dança
Não tem mais menina de trança
Nem cheiro de lança no ar
Hoje não tem frevo
Tem gente que passa com medo
E na praça ninguém pra cantar
Me lembro tanto
E é tão grande a saudade
Que até parece verdade
Que o tempo inda pode voltar
Tempo da praia de ponta de pedra
Das noites de lua, dos blocos de rua
Do susto é carreira na caramboleira
Do bomba-meu-boi
Que tempo que foi
Agulha frita, munguzá, cravo e canela
Serenata eu fiz pra ela
Cada noite de luar
Tempo do corso, na Rua da Aurora
É moço no passo
Menino e senhora do bonde de Olinda
Pra baixo e pra cima
Do caramanchão
Esqueço mais não
E frevo ainda apesar da quarta-feira
No cordão da saideira
Vendo a vida se enfeitar -
Inspiração (Ubenor Santos)
Lavarei as mãos
Em lágrimas se algum dia eu derramar
Ninguém ainda me fez chorar
Pensando em um amor que já foi meu
Fiz um poema da inspiração
Que a saudade me deu
Ela foi ingrata e me traiu
O que vale é que meu coração resisistiu
Uma falsidade é bem difícil esquecer
Eu tive saudade mas não cheguei a sofrer
Lavarei as mãos em lágrimas
Se algum dia eu derramar
Ninguém ainda me fez chorar. -
Soneto de separação (Tom Jobim e Vinícius de Moraes)
De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama
De repente não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente
Fez-se do amigo próximo, o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente
Gravadora: Philips
Produção: Aloysio de Oliveira
Arranjos: Oscar Castro Neves
Capa: caricatura de LAN
Contracapa: Foto de Gaúcho