álbum

Nara (1964)

Com Açúcar Com Afeto

1980

músicas / letras (clique nas músicas para ver as letras)

  1. A Rita (Chico Buarque)

    A Rita levou meu sorriso
    No sorriso dela, meu assunto
    Levou junto com ela
    O que me é de direito
    Arrancou-me do peito
    E tem mais
    Levou seu retrato
    Seu trapo, seu prato
    Que papel
    Uma imagem de São Francisco
    E um bom disco de Noel
    A Rita matou nosso amor
    De vingança
    Nem herança deixou
    Não levou um tostão

    Porque não tinha não
    Mas causou perdas e danos
    Levou os meus planos
    Meus pobres enganos
    Os meus vinte anos
    O meu coração
    E além de tudo
    Me deixou mudo o violão

  2. Onde é que você estava (Chico Buarque)

    Hoje eu tenho a minha lira
    Tenho paz, não admira
    Que você venha me procurar
    Os meus males são pequenos
    Vivo bem, não é pra menos
    Que você vem me encontrar
    Mas quando eu tanto precisava
    Meu amor, como é que é
    Onde é que você estava?
    Onde é que você estava?

    É que eu tenho a minha lira, tenho paz
    Não admira que você venha me procurar
    Os meus males são pequenos, vivo bem
    Não é pra menos que você vem me encontrar
    Mas quando eu tanto precisava, meu amor
    Como é que é
    Onde é que você estava?
    Onde é que você estava?

    Pela tardes sempre em vão procurei
    Fiz alarde da paixão que penei
    Pelas ruas tortas que eu percorria
    Vi bater as portas, vi morrer os dias
    Pelas noites sem luar eu errei
    Pelas tantas da manhã eu cansei
    Não restou mais nada das lembranças minhas
    Nas encruzilhadas, nem nas entrelinhas

  3. Ela desatinou (Chico Buarque)

    Ela desatinou
    Viu chegar quarta-feira
    Acabar brincadeira
    As bandeiras se desmanchando
    E ela ainda está sambando
    Ela desatinou
    Viu morrer alegrias
    Rasgar fantasias
    Os dias sem sol raiando
    E ela ainda está sambando

    Ela não vê que toda gente
    Já está sofrendo normalmente
    Toda cidade anda esquecida
    Da falsa vida da avenida

    Quem não inveja a infeliz
    Feliz no seu mundo de cetim
    Assim debochando da dor, do pecado
    Do tempo perdido, do jogo acabado

  4. Trocando em miúdos (Francis Hime / Chico Buarque)

    Eu vou lhe deixar a medida do Bonfim
    Não me valeu
    Mas fico com o disco do Pixinguinha, sim?
    O resto é seu
    Trocando em miúdos, pode guardar
    As sobras de tudo que chamam lar
    As sombras de tudo que fomos nós
    As marcas do amor nos nossos lençóis
    As nossas melhores lembranças
    Aquela esperança de tudo se ajeitar
    Pode esquecer
    Aquela aliança você pode empenhar
    Ou derreter
    Mas devo dizer que não vou lhe dar
    O enorme prazer de me ver chorar
    Nem vou lhe cobrar pelo seu estrago
    Meu peito tão dilacerado
    Aliás, aceite uma ajuda do seu futuro amor pro aluguel
    Devolva o Neruda que você me tomou e nunca leu
    Eu bato o portão sem fazer alarde
    Eu levo a carteira de identidade
    Uma saideira, muita saudade
    E a leve impressão de que já vou tarde

  5. O que será (à flor da pele) (Chico Buarque)

    O que será que me dá
    Que me bole por dentro
    Será que me dá
    Que brota à flor da pele
    Será que me dá
    E que me sobe às faces e me faz corar
    E que me salta aos olhos a me atraiçoar
    E que me aperta o peito e me faz confessar
    O que não tem mais jeito de dissimular
    E que nem é direito ninguém recusar
    E que me faz mendiga, me faz suplicar
    O que não tem medida nem nunca terá
    O que não tem remédio nem nunca terá
    O que não tem receita

    O que será que será
    O que dá dentro da gente que não devia
    Que desacata a gente, que é revelia
    Que é feito uma aguardente que não sacia
    Que é feito estar doente de uma folia
    Que nem dez mandamentos vão conciliar
    Nem todos os unguentos vão aliviar
    Nem todos os quebrantos, toda a alquimia
    Que nem todos os santos
    Será que será
    O que não tem descanso nem nunca terá
    O que não tem cansaço nem nunca terá
    O que não tem limite

    O que será que me dá
    Que me queima por dentro
    Será que me dá
    Que me perturba o sono, será que me dá
    Que todos os tremores me vêm agitar
    Que todos os ardores me vêm atiçar
    Que todos os suores me vêm encharcar
    E todos os meus nervos estão a rogar
    E todos os meus órgãos estão a clamar
    E uma aflição medonha me faz implorar
    O que não tem vergonha nem nunca terá
    O que não tem governo nem nunca terá
    O que não tem juízo

  6. Baioque (Chico Buarque)

    Quando canto, que se cuide
    Quem não for meu irmão
    O meu canto
    Punhalada
    Não conhece perdão
    Quando eu rio
    Quando rio
    Rio seco
    Como é seco o sertão
    Meu sorriso é uma fenda
    Escavada no chão
    Quando eu choro
    Quando choro é uma enchente
    Surpreendendo o verão
    É o inverno de repente
    Inundando o sertão
    Quando eu amo
    Quando amo, eu devoro
    Todo o meu coração
    Eu odeio, eu adoro
    Numa mesma oração
    Quando canto
    Mamie, não quero seguir definhando sol a sol
    Me leva daqui, eu quero partir
    Requebrando um rock and roll
    Nem quero saber como se dança o baião
    Eu quero ligar, eu quero um lugar
    Ao som de Ipanema, cinema e televisão

  7. Dueto (com Chico Buarque) (Chico Buarque)

    Consta nos astros (Ela)
    Nos signos
    Nos búzios
    Eu li num anúncio
    Eu vi no espelho
    Tá lá no Evangelho
    Garantem os orixás
    Serás o meu amor
    Serás a minha paz

    Consta nos autos (Ele)
    Nas bulas, nos dogmas
    Eu fiz uma tese
    Eu li num tratado
    Está computado
    Nos dados oficiais
    Serás o meu amor
    Serás a minha paz

    Mas se a ciência provar o contrário? (Ela)
    E se o calendário nos contrariar? (Ele)
    Mas se o destino insistir em nos separar? (Dois)

    Danem-se
    Os astros (Ela)
    Os autos (Ele)
    Os signos (Ela)
    Os dogmas (Ele)
    Os búzios (Ela)
    As bulas (Ele)
    Anúncios (Ela)
    Tratados (Ele)
    Ciganas (Ela)
    Projetos (Ele)
    Profetas (Ela)
    Sinopses (Eles)
    Espelhos (Ela)
    Conselhos (Ele)
    Se dane o Evangelho (Dois)
    E todos os orixás
    Serás o meu amor
    Serás, amor, a minha paz

    Consta na pauta (Ele)
    No karma (Ela)
    Na carne (Ele)
    Passou na novela (Ela)
    Está no seguro (Ele)
    Picharam no muro (Ela)
    Mandei fazer um cartaz (Ele)
    Serás o meu amor (Dois)
    Serás a minha paz
    Mas se a ciência provar o contrário? (Ele)
    E se o calendário nos contrariar? (Ela)
    Mas se o destino insistir em nos separar (Dois)
    Danem-se
    Os astros (Ela)
    Os autos (Ele)
    Os signos (Ela)
    Os dogmas (Ele)
    Os búzios (Ela)

    As bulas (Ele)
    Anúncios (Ela)
    Tratados (Ele)
    Ciganas (Ela)
    Projetos (Ele)
    Profetas (Ela)
    Sinopses (Eles)
    Espelhos (Ela)
    Conselhos (Ele)
    Se dane o Evangelho (Dois)
    E todos os orixás
    Serás o meu amor
    Serás, amor, a minha paz

    Consta nos mapas (Ele)
    Nos lábios (Ela)
    No lápis (Ele)
    Consta nos OVNIS (Ela)
    No Pravda (Ele)
    Na vodka (Ela)

  8. Vence na vida quem diz sim (com Chico Buarque) (Chico Buarque / Ruy Guerra)

    Vence na vida quem diz sim
    Vence na vida quem diz sim
    Vence na vida quem diz sim
    Vence na vida quem diz sim
    Vence na vida quem diz sim

    Se te dói o corpo
    Diz que sim
    Torcem mais um pouco
    Diz que sim
    Se te dão um soco
    Diz que sim
    Se te deixam louco
    Diz que sim
    Se te tratam no chicote
    Babam no cangote
    Baixa o rosto e aprende um mote
    Olhe bem pra mim

    Vence na vida quem diz sim
    Vence na vida quem diz sim
    Vence na vida quem diz sim
    Vence na vida quem diz sim

    Se te mandam flores
    Diz que sim
    Se te dizem horrores
    Diz que sim
    Mandam pra cozinha
    Diz que sim
    Chamam pra caminha
    Diz que sim
    Se te chamam vagabunda
    Montam na carcunda
    Se te largam moribunda
    Olha bem pra mim
    Vence na vida quem diz sim
    Vence na vida quem diz sim
    Vence na vida quem diz sim

    Se te erguem a taça
    Diz que sim
    Se te xingam a raça
    Diz que sim
    Se te chupam a alma
    Diz que sim
    Se te pedem calma
    Diz que sim
    Se já estás virando um caco
    Vives num buraco
    E se é do balacobaco
    Olha bem pra mim

    Vence na vida quem diz sim
    Vence na vida quem diz sim
    Vence na vida quem diz sim
    Vence na vida quem diz sim...

  9. Samba e Amor (Chico Buarque)

    Eu faço samba e amor até mais tarde
    E tenho muito sono de manhã
    Escuto a correria da cidade
    Que arde
    E apressa o dia de amanhã
    De madrugada a gente ainda se ama
    E a fábrica começa a buzinar
    O transito contorna nossa cama
    Reclama do nosso eterno espreguiçar
    No colo da bem-vinda companheira
    No corpo do bendito violão
    Eu faço samba e amor a noite inteira
    Não tenho a quem prestar satisfação

    Eu faço samba e amor até mais tarde
    E tenho muito mais o que fazer
    Escuto a correria da cidade, que alarde
    Será que é tão difícil amanhecer?
    Não sei se preguiçoso ou se covarde
    Debaixo do meu cobertor de lã

    Eu faço samba e amor até mais tarde
    E tenho muito sono de manhã

  10. Homenagem ao malandro (Chico Buarque)

    Eu fui fazer
    Um samba em homenagem
    À nata da malandragem
    Que eu conheço de outros carnavais
    Eu fui à Lapa
    E perdi a viagem
    Que aquela tal malandragem
    Não existe mais
    Agora já não é normal
    O que dá de malandro
    Regular, profissional
    Malandro com aparato de malandro oficial
    Malandro candidato a malandro federal
    Malandro com retrato na coluna social
    Malandro com gravata com contrato e capital
    E nunca se dá mal
    Mas o malandro pra valer, não espalha
    Aposentou a navalha
    Tem mulher e filho
    E tralha e tal
    Dizem as más línguas que ele até
    Trabalha, mora lá longe e chacoalha
    Num trem da Central

  11. Olhos nos Olhos (Chico Buarque)

    Quando você me deixou, meu bem
    Me disse pra ser feliz, e passar bem
    Quis morrer de ciúme
    Quase enlouqueci
    Mas depois, como era de costume
    Obedeci
    Quando você me quiser rever
    Já vai me encontrar refeita, pode crer
    Olhos nos olhos
    Quero ver o que você faz
    Ao sentir que sem você eu passo bem demais
    E que venho até remoçando
    Me pego cantando sem mais, nem porquê
    E tantas águas rolaram
    Tantos homens me amaram bem mais e melhor que você
    Quando talvez precisar de mim
    Você sabe que a casa é sempre sua
    Venha sim
    Olhos nos olhos
    Quero ver o que você diz
    Quero ver como suporta me ver tão feliz
    E venho até remoçando
    Me pego cantando sem mais nem porquê

  12. Mambembe (com Chico Buarque) (Chico Buarque)

    No palco, na praça, no circo
    Num banco de jardim
    Correndo no escuro
    Pichado no muro
    Você vai saber de mim
    Mambembe, cigano
    Debaixo da ponte
    Cantando por baixo da terra
    Cantando na boca do povo
    Cantando
    Mendigo, malandro, moleque, molambo, marginal
    Escravo fugido ou louco varrido
    Vou fazer meu festival
    Mambembe, cigano
    Debaixo da ponte
    Cantando
    Por baixo da terra
    Cantando
    Na boca do povo
    Cantando
    Poeta, palhaço, pirata, corisco, errante, judeu
    Cantando
    Dormindo na estrada
    Não é nada, não é nada
    E esse mundo é todo meu
    Mambembe, cigano
    Debaixo da ponte
    Cantando
    Por baixo da terra
    Cantando
    Na boca do povo
    Cantando

ficha técnica

Gravadora: Philips

Direção de produção: Sérgio de Carvalho e Paulinho Tapajós

Técnico de gravação e mixagem: Celinho

Auxiliares de gravação: Iedo e Luisinho Tavares

Estúdio: Somil

Corte: Joaquim Figueira

Montagem: Jairo Gaulberto

Fotos: Ricardo de Vicq

Lay-out: Lobianco

Arte-final: Jorge Vianna