álbum

Nara (1964)

Meu Samba Encabulado

1983

músicas / letras (clique nas músicas para ver as letras)

  1. Meu cantar (Noca da Portela / Joel Menezes)

    Meu cantar vem do fundo do coração
    É canção que me libertou
    De um amor que mentiu
    Que feriu e me enganou
    Meu cantar
    Meu cantar faz meu peito não mais sangrar
    Meu olhar esquecer a dor
    De um amor que bateu
    Que doeu e me machucou

    Agora sei sorrir
    Descobri que a dor
    Que faz o amor ser infeliz
    É a mesma que traz
    Minha paz e me faz feliz

  2. 14 anos (Paulinho da Viola)

    Tinha eu 14 anos de idade
    Quando meu pai me chamou
    Perguntou-me se eu queria
    Estudar filosofia
    Medicina ou engenharia
    Tinha eu que ser doutor
    Mas a minha aspiração
    Era ter um violão
    Para me tornar sambista
    Ele então me aconselhou
    Sambista não tem valor
    Nesta terra de doutor
    E seu doutor
    O meu pai tinha razão

    Vejo um samba ser vendido
    E o sambista esquecido
    O seu verdadeiro autor
    Eu estou necessitado
    Mas meu samba encabulado
    Eu não vendo, não senhor

  3. Relembrando (Luiz Carlos da Vila)

    O meu pai colocou pra tocar um choro
    Relembrando os tempos de Pixinguinha
    De repente, eu estava fazendo coro
    Esse estilo plangente penetra na gente
    E a alma se esvai toda a devanear
    E um velho passante, que pressentiu
    Marejando nos olhos, chegou, sorriu
    O choro inundou toda a sala
    Quem ouve um choro, se cala
    Ou fala somente de coisas inspiradas no amor

    E na conversa dos dois eu fui me integrando
    Me entregando, viajando
    Nos tempos em que a canção
    De um violão madrugando
    À janela da amada
    Vinha dar em casamento
    Ou somente falação
    Confesso que dentro do peito
    Saudades então eu senti
    De um tempo em que só
    Na conversa dos velhos vivi

  4. De mal pra pior (Pixinguinha / Hermínio Bello de Carvalho)

    Vai se ver e atrás do riso
    Está morrendo de chorar
    E passando maus pedaços
    Disfarçando que vai bem
    Não vai bem, pra ser sincero
    Vai de mal pra bem pior
    Vive sem pedir ajuda
    E eu sei lá por quê, pra quê
    Mas, no entanto, pelos cantos
    Só faz lamentar, se maldizer

    Vai se ver, pede tão pouco
    E entretanto, não achou
    Dos amores que esperava
    Só se perdeu, desencontrou
    Vive então se remoendo
    Mas por fora, nem se vê
    Se defende num sorriso
    Pra disfarçar não sei o quê

  5. Há música no ar (Yvonne Lara / Délcio Carvalho)

    Me deixa cantar, minha gente
    Um samba que vai alegrar
    Soltar os meus sonhos
    Criar ambiente
    No qual a tristeza não vai penetrar

    Me deixa fugir da saudade
    Que às vezes me faz soluçar
    Eu quero a bonança, a bem da verdade
    A gente se cansa de tanto penar

    Quero esquecimento
    De toda amargura
    Trocar o meu lamento
    Por sonho e ventura
    E há música no ar
    Trazendo emoção
    Não devem perdurar
    As sombras da desilusão

    Sorria, minha gente
    Que um samba de alegria
    Nos leva fatalmente
    Ao fim da agonia
    Precisa ser feliz
    Quem soube o que é chorar
    E ver um grande amor
    Chegar

  6. Eu e a brisa (Johnny Alf)

  7. Como será o ano 2000? (Padeirinho)

    Como será
    Daqui para o ano 2000?
    Como será
    O nosso querido Brasil?

    Como será
    O morro sem os barracões?
    Como será
    O Rio sem as tradições?

    É, será que no ano 2000
    As escolas de samba
    Irão desfilar?
    Será que haverá carnaval?
    Será?
    Daqui para o ano 2000
    Só Deus sabe como será
    E o povo do nosso Brasil
    Verá

  8. Isso é o Brasil (José Maria de Abreu / Luiz Peixoto)

    Que quer dizer esse monjolo
    A rodar as moendas?
    E esse ruído de jongo
    De antigas fazendas?
    Que quer dizer essa algazarra
    De araras, saguis e cigarras
    Quebrando o silêncio
    Das águas dos igarapés?

    Que quer dizer essa jangada
    Que vai lutando lá no alto-mar?
    E esse caboclo nessa rede
    Se embalando pra lá, pra cá, pra lá?
    E o aboio triste deste velho boiadeiro
    De quebrada em quebrada
    A gritar: ê, boi?
    E essa mulata
    Bamboleando tanto o quadril
    No passo da malemolência
    Dentro da cadência
    Com esse sorriso tão meigo e gentil?
    E o verde-esperança da mata
    No olhar da mulata?
    Tudo isso quer dizer
    Brasil

  9. Fundo azul (Nelson Sargento)

    Borboleta esvoaçando em fundo azul
    Flores desabrocham, é primavera
    Brisa leve
    Sopra do norte pro sul
    No espaço, um foguete
    Busca a nova era
    O vigário empunha a estola
    No campo santo
    Alguém reza por alguém
    Vinte e dois homens
    Disputando uma bola
    Joga no bicho
    Eu e ela, e você também

    O cão ainda é fiel amigo
    Crianças continuam a nascer
    Uma velhice imensa sem abrigo
    Quanta gente à procura de lazer
    Ninguém é de ninguém
    Esta é a frase padrão
    Salve-se quem puder
    Neste mundo de ilusão

  10. Pé-de-moleque (Radamés Gnatalli)

  11. Firuliu (Teca Calazans)

    Firuliu, firuliu, firuléu
    Onda no mar, quer maré

    Eu venho de terras tão distantes
    Trazendo o ouro das minas
    No peito uma dor lacerada
    Nos olhos a lágrima contida
    Nos galhos daquela figueira
    Perdido, o amor se encontrava
    O vento soprando tão forte
    No seu cabelo cantava
    São sete as espadas da lua
    São sete as vidas que tenho
    E a barca navega seu rumo
    No mar
    Pra eu te amar todo tempo

  12. Brasileirinho (João Pernambuco / Turíbio Santos)

    Doce melodia, és tão triste
    Que não sei se tu existes
    Pra eu não me entristecer
    Vem, chega assim
    Vem pro meu lado
    E me deixa estonteado
    Com você eu arranjo
    Um novo jeito de viver
    Vem, vem, vem, vem
    Vem com esse jeito delicado
    E assim não tenho medo
    De por você me perder
    Vem, vem, vem, vem
    Vem, não me apresse, melodia
    Dê-me um beijo demorado
    Tô assim todo tomado
    Dos compassos de você
    Vem, vem, vem, vem
    Oh, minha doce melodia
    Me entrelaço na harmonia
    Que penso que sou você
    Vai, vai, vai, vai
    Vai, mas fica aqui
    Só um pouquinho
    Que um dia inda faço
    Um belo verso pra você
    Não esquecer, só pra você
    Vai, vai, vai
    Leva este teu eu
    Brasileirinho
    Nossa gente tem no peito
    Sentimento de você

  13. Quando a saudade apertar (Jayme Florence / Leonel Azevedo)

    Quando a saudade apertar
    E o remorso em teu peito
    Cruel se abrigar
    Tu sentirás, então, a mesma dor
    Que eu senti quando vi
    Morrer nosso amor
    Na solidão desse teto
    Onde um grande afeto
    Chorando perdi
    Meu violão soluçando
    Minha alma cantando
    Só lembram de ti

    E quando a tarde declina
    E a verde campina
    Já veste da noite o negror
    Vejo tal como num sonho
    O teu vulto risonho
    Falando-me de amor
    O rio ao longe rolando
    Cigarras cantando
    De tarde ao sol pôr
    Trazem à minh’alma vazia
    A cruel nostalgia
    Que faz minha dor

ficha técnica

Gravadora: Philips

Projeto artístico: Túlio Feliciano e Nara Leão

Produção artística: Maurício Carrilho

Produção executiva: Branca Ramil, Ivone de Virgilis e Liane Klein (Tchê Promoções)

Técnicos de gravação: Ary Carvalhaes e João Moreira

Auxiliares de estúdio: Carlos Jorge de Souza e Márcio Pereira Gama

Mixagem: Maurício Carrilho, Ary Carvalhaes e Henrique Cazes (na música Pé-de-moleque)

Corte: Ivan Lisnik

Arregimentação: Clóvis Mello, Lili e Tchê Promoções

Arranjo: Maurício Carrilho, Joaquim Santos, Paulo Moura, Radamés Gnatalli e Luiz Otávio Braga

Acordeom: Chiquinho

Baixo: Feijão

Bandolim: Joel Nascimento e Pedro Amorim

Banjo: Henrique Cazes

Bateria: Jorjão

Caixa: Bolão

Caixinha de agulha 78: Ubirany

Cavaquinho: Henrique Cazes, Paulinho da Viola, Carlinhos, Wanderson Martins

Clarinete: Paulo Moura, Tony, Paulo Sérgio

Coro afetivo: Ana Lúcia, Branca, Ivone, Lili, Teça, Beto, Dazinho, Henrique, Luís Otávio e Maurício

Flauta: Altamiro Carrilho, Dazinho e Mário Seve

Ganzá: Joviniano e Beto Cazes

Guitarra: Torcuato e Wolfgang Netzer

Pandeiro: Bira, Beto Cazes, Márcio Gomes

Piano: Zezinho Moura

Piano Fender Rhodes: Alex Meirelles

Repique: Ubirany e Jorge

Sax-alto: Dazinho, Paulo Moura

Sax-tenor: Zé Bodega

Surdo: Gordinho

Tamborim: Beto Cazes, Bira, Ubirany, Joviniano, Luna, Marçal e Eliseu

Tantã: Sereno

Trombone: Seu Alberto

Tumbadora: Beto Cazes

Violão: Maurício Carrilho, Joaquim Santos, Rogério Silva e Nara Leão

Violão de sete cordas: Luís Otávio Braga e Jorge Eduardo

Viola de dez cordas: Wolfgang Netzer

Xequerê: Joviniano

Yamaha CP70: Radamés Gnatalli

Coordenação gráfica: Edson Araújo

Capa e fotos: Frederico Mendes

Arte-final: Jorge Vianna

Nara Leão vestida por Daniel Maia

Gravado e mixado no inverno de 83 nos Estúdios Barra – RJ